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Governança de Dados. O Novo Código-Fonte da Competitividade

Por: Adriana Esteves

14 de Agosto de 2025

Vivemos na chamada Década Digital da Europa, uma visão traçada pela Comissão Europeia que ambiciona uma sociedade digital inclusiva, justa e baseada nos valores europeus. A digitalização está a transformar a forma como aprendemos, trabalhamos, comunicamos e inovamos, criando novas oportunidades para cidadãos, empresas e administrações públicas. Desde o empreendedor que gere o seu negócio através de plataformas digitais, ao agricultor numa zona remota com acesso a serviços online, a sociedade digital tornou-se parte do nosso quotidiano — e da nossa vida profissional.

Por trás desta revolução silenciosa estão os dados. São eles que alimentam os algoritmos que personalizam serviços, que informam decisões estratégicas, que ligam sistemas e que permitem otimizar processos. Nas palavras do World Economic Forum, os dados são hoje o “novo petróleo” — um recurso de valor crescente, essencial para gerar conhecimento, inovação e vantagem competitiva.

Na economia digital, quem governa os dados, conquista vantagem competitiva.

Contudo, para uma digitalização eficaz, segura e com verdadeiro propósito, não basta ter dados — é necessário governá-los com inteligência. A disponibilidade, a qualidade, a rastreabilidade e a utilização ética e estratégica dos dados são elementos críticos. E é aqui que entra a governança de dados: o conjunto de políticas, processos e responsabilidades que asseguram que os dados são tratados como o que realmente são — ativos estratégicos.

Assim, a questão é: como podemos, no contexto empresarial de cada um, extrair valor real dos dados? Quais são os pontos críticos para uma governança de dados eficaz e adaptada à realidade de cada organização?

Caminhos para uma Governança de Dados Eficaz: da Identificação à Estratégia

Implementar um sistema de governança de dados eficaz exige visão estratégica, compromisso institucional e uma abordagem estruturada. O primeiro passo essencial consiste na identificação, classificação e priorização dos dados com base no seu valor estratégico para a organização. Em vez de tentar governar todos os dados indiscriminadamente, é fundamental focar naqueles que realmente geram conhecimento, diferenciação e vantagem competitiva.

Entre os principais conjuntos de dados a considerar, destacam-se:

  • Dados de Propriedade Intelectual: patentes, marcas, desenhos, segredos comerciais e outros ativos intangíveis que representam valor económico e exclusividade.
  • Dados de Inovação: indicadores de I&D, resultados de projetos, registos de know-how e métricas de desempenho tecnológico.
  • Bases de Dados: conjuntos organizados de informação técnico-científica, comercial e operacional que suportam decisões e processos.
  • Dados Pessoais: cujo tratamento exige atenção redobrada, em conformidade com o RGPD e outras normas de proteção da privacidade.
  • Informação sobre Novas Tecnologias e Ativos Digitais: dados relacionados com IA, blockchain, software e tendências tecnológicas emergentes.

Para garantir uma abordagem sólida, operacionalizável e estratégica, é recomendável adotar um modelo de governança assente em quatro vetores fundamentais, que articulam diferentes dimensões essenciais à valorização dos dados:

1. Confomidade (Compliance)

Num ambiente digital cada vez mais regulado, a conformidade legal deixou de ser uma formalidade para se tornar uma vantagem competitiva e reputacional. O RGPD e outras normas nacionais e internacionais estabeleceram novos padrões de rastreabilidade, consentimento, base legal e responsabilidade no tratamento dos dados. A conformidade exige, assim, o alinhamento entre estratégia digital, governança corporativa e segurança jurídica — especialmente em sectores sensíveis como saúde, finanças ou energia.

Além disso, assistimos à emergência de regulamentos específicos sobre partilha segura de dados, algoritmos responsáveis e uso transparente da inteligência artificial. Neste cenário dinâmico e complexo, estar em conformidade é também estar preparado para inovar com confiança.

2. Proteção Jurídica

A dimensão legal da governança de dados deve contemplar a proteção dos ativos intangíveis, sendo os direitos de propriedade intelectual ferramentas cruciais para garantir exclusividade e controlo. Patentes, direitos de autor, segredos comerciais e bases de dados são formas legais de proteger o conhecimento que reside nos dados — e evitar que este seja indevidamente explorado por terceiros.

3. Segurança

A segurança da informação deve ser transversal e proativa. A cibersegurança já não é apenas uma responsabilidade técnica — é um pilar de confiança. A governança eficaz estabelece normas claras para o manuseamento dos dados, promove uma cultura interna de proteção da informação e reforça a resiliência organizacional face a ameaças digitais, fugas de dados ou acessos não autorizados.

4. Tecnologia

A governança de dados exige infraestrutura tecnológica robusta, mas também critérios de qualidade, rastreabilidade e consistência. É necessário assegurar que os dados são fiáveis, atualizados, acessíveis e categorizados de forma a facilitar a sua exploração. Sem qualidade, não há inteligência. Sem rastreabilidade, não há confiança. Sem tecnologia adequada, não há governança possível.

Benefícios e Aplicações Práticas

A implementação de um sistema estruturado de governança de dados traz benefícios tangíveis, tais como:

  • Redução de riscos regulatórios e reputacionais;
  • Aumento da eficiência, através da eliminação de silos de informação e melhoria da qualidade dos dados;
  • Melhor tomada de decisão, com base em dados consistentes e rastreáveis;
  • Fortalecimento da confiança, interna e externa, através de uma gestão transparente e responsável dos dados;
  • Impulso à inovação, ao criar as condições seguras e éticas para a exploração de novos modelos de negócio e tecnologias emergentes.

Apesar das vantagens evidentes, os desafios são significativos. Superá-los exige compromisso da liderança, definição clara de papéis e responsabilidades, formação contínua e a construção de um modelo de governação colaborativo, capaz de integrar pessoas, processos, tecnologia e cultura organizacional.

Contudo, numa era em que os dados moldam mercados, produtos e relações, a governança de dados deixou de ser uma escolha — passou a ser uma necessidade estratégica. É o instrumento que permite proteger, valorizar e explorar aquilo que as organizações têm de mais invisível — mas também de mais valioso.

Governar os dados é, hoje, governar o futuro da própria organização.

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